Preservar a natureza e ainda ser remunerado por isso, gerando energia! É o que todo o produtor deseja para sua propriedade. Com os avanços nas pesquisas e estudos aprofundados na suinocultura, os pesquisadores do Instituto de Zootecnia (IZ-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, conseguiram chegar a números muito expressivos sobre o desperdício dos produtos que decorrem do processo de criação de suínos. Esses desperdícios, quando invertidos, passam de passivo ambiental para ativo financeiro. Uma boa notícia para comemorar no dia do suinocultor, 24 de julho.

A tecnologia de tratamento de efluentes cria alternativas de geração de renda, como o biogás que pode ser utilizado como fonte de energia em uma propriedade, biocombustível para veículos, utilizado em unidade de processamento de produtos cárneos para defumados, atendendo corretamente as normas de produção. “É justamente essa a grande necessidade dos tempos atuais, equacionar a preservação no meio-ambiente, transformando em

rendimentos ao produtor e maior sustentabilidade ambiental”, explicou pesquisadora Simone Raymundo de Oliveira, doutora em Zootecnia. É a suinocultura como produtora de proteína animal, água, energia e biofertilizantes.

O consumo de energia e combustíveis contribui nos altos custos produtivos, acarretando menos rentabilidades, pois são itens que sofrem constantes aumentos de preço, interferindo significativamente no custo de produção. Sendo assim, por que não passar de consumidor para produtor de energia, uma vez que efluentes com alto teor de matéria orgânica tem alto potencial para emissão de metano, como é o caso dos dejetos dos suínos?

O objetivo da equipe é fazer uma releitura da atividade econômica suinícola, agregando conceitos inovadores, visando obter maior lucro por meio de aprimoramento do sistema como um todo. “Além de ser o único combustível com potencial de se tornar ativo energético e, consequentemente financeiro, originário de passivos ambientais, com pegada de carbono negativa em seu ciclo de vida, é o biogás”, destaca Simone.

São inúmeras as vantagens para a produção e uso do biometano. O Programa RenovaBio do Ministério das Minas e Energia tem como objetivo a expansão da produção de biocombustíveis no Brasil, baseada na previsibilidade, na sustentabilidade ambiental, econômica e social, compatível com o crescimento do mercado.

Simone destaca que as propostas das instituições presentes na reunião de construção do Renovabio [biocombustíveis, biogás e biometano] resultaram num documento que serviu de base para o Programa, “no qual o biogás/biometano é considerado com destaque”.

“O Programa apresenta elevado potencial de redução das emissões dos gases de efeito estufa, portanto, um importante contribuinte para o alcance das metas brasileiras, firmadas na COP 21 de Paris e ratificados na COP 22 em Marraquesch”, ressalta Simone. Além dessa importante vantagem ambiental, há uma série de outras características positivas, ou externalidades, que fazem este energético altamente estratégico e competitivo.

Embora tenha havido o crescimento, estamos muito aquém do nosso potencial de produção de biogás. Em 2018, a ABIOGAS, calculou o potencial brasileiro para a produção de biogás em 84,6 bilhões de Nm³/ano, considerando apenas os setores sucroenergético, agroindustrial e de saneamento. Contudo, em 2019 o Brasil produziu somente 1,5% do potencial.

Produção de biogás

Um suíno em terminação [dos 23 kg aos 110 quilogramas de peso vivo] produzindo sete litros por dia de dejetos e uma matriz como unidade de cálculo no ciclo completo (UCC) (1 matriz +10 suínos para abate), com o volume médio de dejetos bruto gerados de 150 litros por dia em função do grau de desperdício de água, temos como resultado que uma matriz (UCC) produzirá, em média 54,75 metros cúbicos de dejetos em um ano.

Já um suíno na fase de crescimento e terminação produzirá em média 0,60 metro cúbico de dejeto por período. “Contudo, para a produção de metano/biogás, consideraremos que o processo de terminação é contínuo, ou seja, existem animais na fase de crescimento e terminação nos 365 dias de um ano”, diz Simone.

Segundo Simone, se for adotar somente o número de cabeças abatidas em 2019 (IBGE, 2020) a recuperação financeira, com a comercialização do GLP seria de R$ 2.707 bilhões de reais no Brasil e R$ 157.774 milhões de reais no Estado de São Paulo.

A transformação do passivo ambiental efluente bruto, para uma matriz como unidade no ciclo completo (UCC) em um ano e um suíno na fase de crescimento/terminação em um ano, no ativo financeiro biogás, comercializado como GLP, é de R$ 5.250,94 e R$ 244,55 respectivamente, sendo que uma matriz no ciclo completo produz 2,235 m³ biogás (60% metano) por dia e um suíno dos 63 aos 150 dias gera 0,104 m³ biogás (60% metano) por dia.

A produção de botijões de gás (GLP P-13) por uma matriz (UCC) por ano seria equivalente a 55 botijões e um suíno durante o período (crescimento/terminação) em um ano produziria três botijões. Uma família de quatro pessoas gasta em média um botijão (P-13) a cada 45 dias (dados da Copagaz em 2019), a produção anual de uma única matriz no ciclo completo (UCC) supriria esta família por seis anos e dez meses com gás de cozinha e a produção de GLP de um único terminado abasteceria a família por quatro meses e 15 dias.

 

Portanto, se as matrizes alojadas nas microrregiões de Rio Claro, Limeira, Piracicaba, Mogi Mirim, Campinas, Amparo, Sorocaba e Bragança Paulista, do Estado de São Paulo (segundo dados do IBGE, 2020), produzissem GLP atenderiam a população de uma cidade metropolitana como Campinas por um ano, com margem de segurança de 12 dias. Mais, se todas as matrizes alojadas em SP no ano de 2018 (IBGE/2020) produzissem GLP abasteceriam a população de Campinas do ano de 2019, por quatro anos e meio (54 meses).

“Sendo assim, são inegáveis as vantagens socioeconômicas – ambientais ligadas ao processo de produção do biogás ou biometano como ferramenta para contribuição efetiva de sustentabilidade dos sistemas produtivos de proteína animal. Com o correto tratamento dos efluentes e geração dos coprodutos, o passivo ambiental será uma fonte geradora contínua de input de dinheiro no sistema sobre o que antes eram perdas”, destaca Simone.

 

Existe na mídia divulgações de granjas de suínos que não priorizam as condições ideias de manejo ambiental e bem-estar animal, mas isto não é de fato uma verdade absoluta. Embora, poucos ainda não se adequaram, a grande maioria trabalha com critérios rígidos que atendem o bem-estar animal e as legislações ambientais vigentes, uma vez que, a grande parte da produção

de carne suína brasileira tende os altos padrões de qualidade internacional, exigindo grandes investimentos financeiros e de Recursos Humano.

Para Simone, o suinocultor absolutamente não vai adotar qualquer prática que acarrete prejuízo. Sendo assim, quem investiria tempo, dinheiro, esforços, levantando-se de madrugada, dormindo tarde, para destruir sua casa e desperdiçar seu dinheiro? “É preciso raciocinar, averiguar e analisar criteriosamente as informações repassadas, divulgadas e comentadas, repensando se a finalidade da sua divulgação é promover melhorias ou atender interesses específicos de competidores por mercados.”

Suíno Pata verde IZ – tecnologia IZ e JLTec

 

O Sistema Flotub JLTec – IZ está inserido no Programa “Suíno Pata Verde IZ” que agrega tecnologia inédita e inovadora à suinocultura paulista. O sistema reduz o impacto da atividade no meio ambiente, transformando o passivo ambiental em ativo financeiro aos produtores. O IZ tem pesquisas avançadas e de precisão direcionadas à eficiência alimentar dos suínos, para diminuir o custo de produção de forma direta e indireta de forma viável a pequenos, médios e grandes produtores. Os trabalhos científicos estão direcionados para Produção de Proteína Animal Integrada (PPAI), que visa à produção de carne, água de reuso, energia e biofertilizantes.

O projeto, financiado pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro) e patrocinado pelos Comitês PCJ, tem como principal parceiro a empresa JL Tecnologia Ambiental, apresenta como diferenciais o menor custo de implantação, a utilização de equipamentos nacionais desenvolvidos em indústrias paulistas e, principalmente, a geração de coprodutos – biogás, composto orgânico, biofertilizante (lodo) e água de reuso.

As pesquisas da equipe do programa “Suíno Pata Verde IZ” formada por Simone Raymundo de Oliveira, Fábio Prudêncio de Campos e Ricardo Lopes Dias da Costa (IZ/APTA/SAA), Marcia Nalesso Costa Harder (FATEC-PIRACICABA), Júlio César de Carvalho Balieiro (FMVZ/USP), Valter Arthur (CENA/USP), João Luciano R. da Silva (JLTEC) e Luciana Bueno (CNS), buscam desenvolver trabalhos de investigação científica, transformando algo considerado como dejeto em lucro para o produtor.

O Sistema desenvolvido pelo Instituto de Zootecnia, em parceria com a empresa JL Tecnologia Ambiental (JLTec), do zootecnista João Luciano da Silva, foi instalado na Granja Paraíso, propriedade da empresa Agronegócios Picolini, situada em Cordeirópolis (SP).

Na propriedade há um protótipo de sistema de tratamento de efluentes de suínos e valoração dos coprodutos – água de reuso, sólidos para compostagem e lodo flotado –, gerados no tratamento de 16 mil litros de efluentes por hora de 200 matrizes suínas.

A propriedade conta com um sistema de tratamento de efluentes de suínos e aproveitamento dos dejetos para a produção de crisântemos e café, além de

reaproveitamento de água de chuva. Trata-se de um exemplo de produção sustentável.

Fonte: Assessoria – Lisley de Cássia

Publicação Portal Sucesso no Campo

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