Ingrediente se destaca como solução econômica e sustentável ao substituir parcialmente o milho nas rações
Helem Cristina Silva Filgueira
Kallita Lourenço de Souza Cardoso
Amoracyr José Costa Nuñez
Vivian Vezzoni de Almeida
O milho e a soja são grãos muito utilizados tanto para a alimentação humana quanto para a animal. O primeiro destaca-se por ser uma fonte energética, enquanto o segundo é uma fonte proteica. Na produção industrial de suínos, as rações são compostas, em grande parte, por milho e farelo de soja, que apresentam constantes mudanças de preços. Notavelmente, o custo com alimentação corresponde a cerca de 70% dos custos totais da produção de suínos. Desse modo, um dos desafios da suinocultura é a busca por ingredientes alternativos para contornar o aumento no custo das rações, desde que mantenham o desempenho animal equivalente ao obtido com os insumos convencionais, milho e farelo de soja.
Casca de soja: economia e sustentabilidade
Devido à importância da cultura da soja no agronegócio nacional e ao volume de material processado diariamente, a casca de soja surge como um ingrediente alternativo bastante vantajoso para a suinocultura. A casca de soja é um coproduto fibroso que corresponde à parte externa do grão e é obtida durante o processo de extração do óleo de soja, um dos mais utilizados na culinária brasileira. A casca de soja pode ser usada nas formulações de rações para suínos, em substituição parcial ao milho, com o intuito de tornar a produção menos onerosa, especialmente em regiões que possuem alta oferta desse resíduo agroindustrial, como é o caso do Centro-Oeste.
O baixo custo não é a sua única virtude; a casca de soja também é um exemplo real de sustentabilidade. Cada tonelada de soja processada gera cerca de 75 kg de casca. O descarte inadequado dessa grande quantidade de resíduo contribui para o aumento da poluição ambiental devido ao seu longo período de degradação. Sendo assim, o aproveitamento da casca de soja na alimentação de suínos visa uma destinação sustentável para este resíduo do agronegócio. Isso implica na diminuição do desperdício e na adoção de práticas mais conscientes, contribuindo, assim, para o uso mais eficiente dos recursos disponíveis.
Da esq. para a dir.: Amoracyr Nuñez, Kallita Cardoso, Vivian Almeida e Helem Filgueira (Foto: Arquivo Pessoal)
Casca de soja na nutrição de suínos
O sucesso de programas nutricionais contendo casca de soja é dependente da idade do animal, visto que esse coproduto contém elevado teor de fibra. Em suínos, a porção fibrosa do alimento não é digerida pelas enzimas endógenas, porém sofre fermentação no intestino grosso, gerando energia para o crescimento animal. Leitões são considerados animais jovens e apresentam limitado processo fermentativo. Assim, a casca de soja tem melhor aproveitamento por suínos com maior maturidade gastrointestinal, ou seja, porcas, machos reprodutores e suínos destinados ao abate nas fases finais do ciclo de produção (crescimento e terminação).
Outro aspecto importante que deve ser levado em consideração em programas nutricionais para suínos é o nível de inclusão de casca de soja na dieta. Inclusões de casca de soja superiores a 20% na dieta podem reduzir o consumo de ração e o ganho de peso de suínos em crescimento. Recentemente, pesquisas financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) coordenadas pela professora Vivian Vezzoni de Almeida têm sido conduzidas na Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) da UFG para avaliar as respostas produtivas e fisiológicas de suínos em fase de crescimento alimentados com 15% de casca de soja na dieta.
Conclui-se, portanto, que na produção industrial de suínos, a casca de soja destaca-se como uma solução econômica e sustentável ao substituir parcialmente o milho nas rações. Porém, o sucesso dessa estratégia nutricional depende da maturidade gastrointestinal do animal e do nível de inclusão na dieta, uma vez que é um ingrediente rico em fibras. Novas pesquisas estão sendo desenvolvidas para viabilizar o uso de 15% de casca de soja na alimentação de suínos em crescimento, considerando os aspectos produtivos, econômicos e ambientais.
Helem Cristina Silva Filgueira é graduanda do curso de Medicina Veterinária (EVZ/UFG).
Kallita Lourenço de Souza Cardoso é graduanda do curso de Medicina Veterinária (EVZ/UFG).
Amoracyr José Costa Nuñez é professor de Produção de Bovinos de Corte (EVZ/UFG).
Vivian Vezzoni de Almeida é professora de Produção de Suínos (EVZ/UFG).
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Fonte: EVZ