A indústria processadora de carnes de frangos e suínos vive um cenário de demanda em alta e deve sentir menos a pressão dos custos de produção nos próximos meses, a partir da entrada do milho de segunda safra no mercado. A avaliação é do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, indicando otimismo para o desempenho do setor no segundo semestre.
De acordo com o executivo, o Brasil tem sido chamado para atender à demanda internacional, agravada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Não apenas na exportação de grãos, mas também de carnes. Santin ressalta ainda que a cadeia produtiva de frango e suíno tem conseguido manter a sanidade na produção, o que também é uma vantagem competitiva do país.
“Há resquícios da peste suína no mundo, gripe aviária também e o retorno do inverno no Hemisfério Norte não está muito longe, o que facilita a disseminação dessas doenças, infelizmente, para os países que as têm”, analisa o presidente da ABPA.
Nesta quinta-feira (28/7), a Associação atualiza suas projeções para este ano de produção e exportações na suinocultura e avicultura. A entidade apresenta também os primeiros resultados de um estudo sobre competitividade do setor, a ser lançado no Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura (Siavs), entre os dias 9 e 11 de agosto.
No primeiro semestre, foram exportadas 2,423 milhões de toneladas de carne de frango, 8% a mais que no mesmo período em 2021, com uma média mensal superior a 400 mil toneladas. Em receita, o aumento na mesma comparação foi de 36%, com os exportadores faturando US$ 4,728 bilhões.
Só no mês de junho, o volume exportado foi 8,8% superior, totalizando 432,5 mil toneladas. O faturamento, de US$ 951,6 milhões, foi 46,1% maior que o registrado no mesmo mês em 2021.
As exportações de carne suína caíram 9,3% no acumulado de janeiro a junho deste ano. Foram 510,2 mil toneladas. O faturamento dos exportadores caiu 17,4%, somando US$ 1,349 bilhão. Em junho, foram embarcadas 93,5 mil toneladas (-14%), com uma receita de US$ 219,1 milhões (-18,9%).
Para Ricardo Santin, a conjuntura é de demanda crescente. Segundo ele, aqueda nas exportações de carne suína registrada no semestre foi concentrada nos dois primeiros meses do ano, com tendência de recuperação nos meses seguintes, retomando patamares de 80 mil, 90 mil toneladas. Nas aves, a expectativa é, pelo menos, de manter o ritmo de crescimento.
“Está muito positiva a conjuntura porque o mundo está demandante de alimentos. O conflito Rússia e Ucrânia causa incertezas e inseguranças e o Brasil tem sido demandado de maneira bastante consistente: retomada na suinocultura e manutenção no frango no segundo semestre e também em 2023”, analisa o presidente da ABPA.
Milho em baixa
Do lado dos custos de produção, a perspectiva é de alívio, com tendência de queda no preço do milho, principal componente da ração dos planteis. Na avaliação de Ricardo Santin, com a oferta da segunda safra entrando no mercado, a cotação do cereal não deve voltar a patamares anteriores, em torno dos R$ 100 a saca de 60 quilos. Um preço que o executivo chama de “especulativo”.
“Eu vejo preço em queda. A oferta está chegando, é abundante e temos mercado consumidor”, diz ele. A indústria de aves e suínos, segundo Santin, demanda cerca de 70 milhões de toneladas do cereal.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção nacional de milho na safra 2021/2022 deve totalizar 115,6 milhões de toneladas. Neste mês, o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com base em Campinas (SP) acumula queda de 2,73% até a terça-feira (26/7), quando a saca fechou cotada a R$ 81,27.
De acordo com os pesquisadores, a baixa de preços acontece não apenas no mercado interno e externo. Aqui no Brasil, os compradores estão em compasso maior de espera, acreditando em preços ainda mais baixos com o avanço da colheita da segunda safra, a principal do país.
Em outras regiões do Brasil, a situação é semelhante, de acordo com os indicadores da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM). Na região de Luis Eduardo Magalhães e Barreiras, no oeste da Bahia, a cotação caiu 1,4% em 30 dias, com a saca custando R$ 70,50. Em Dourados (MS), a desvalorização no período é de 11,33%, com o grão cotado a R$ 66,50 a saca. Já em Cascavel (PR), a desvalorização é de 8,24%, com o milho valendo R$ 78.
“Não vai mais chegar a R$ 100 e o que a gente tem de informação é de queda no Brasil inteiro. Acho que agora a gente tem uma estabilidade maior. Nossos produtores estão promovendo mais compras antecipadas para ter estabilidade na cadeia para 2023”, avalia Ricardo Santin.
Fonte: Revista Globo Rura