Sob forte pressão dos custos de produção, a agroindústria da suinocultura inicia o ano pouco otimista quanto à reversão da tendência dos preços pagos aos criadores, considerados baixos. A situação é atribuída por associações do setor ao excesso de oferta no mercado interno e à queda do poder de compra do brasileiro, que vem freando a demanda pela carne suína. No cenário externo, a China, que volta a cobrar taxa de 12% para importação do produto, e a Rússia, que abriu cota para compra de 100 mil toneladas do Brasil com tarifa zero, devem influenciar o desempenho das exportações brasileiras em 2022, avaliam as entidades.
Segundo o conselheiro-presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, a produção de suínos aumentou cerca de 30% no país nos últimos cinco anos. Isso, somado ao recuo das exportações em novembro, deixou os preços em patamares “preocupantes” para a manutenção da atividade. “Perdemos quase 20 mil toneladas (em vendas externas) no último mês”, diz Lopes. “A demanda é alta, porém está sobrando muita carne suína no mercado interno.”
No Rio Grande do Sul, o preço do quilo vivo do suíno está em R$ 5,71, de acordo com dados do Cepea/Esalq/USP de 30 de dezembro. Já a referência do custo de produção de suínos em ciclo completo calculada pela Central de Inteligência de Aves e Suínos da Embrapa era de R$ 6,59 por quilo vivo em novembro. O presidente da Associação de Criadores de Suínos do Estado (Acsurs), Valdecir Folador, diz que o preço da carne suína ao consumidor não acompanhou a valorização da carne bovina em 2021. “Foi um ano complicado em rentabilidade e, em 2022, o preço não vai ter muita força para subir e deixar margem”, avalia.
Do lado dos custos, a quebra da safra gaúcha de milho traz apreensão com a oferta e possíveis altas de preço do cereal, usado nas rações animais. “A saca de milho disponível hoje supera R$ 95”, diz Folador.
Para o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos (Sips), Rogério Kerber, a suinocultura enfrenta um ciclo desfavorável, com a instabilidade econômica nos principais centros consumidores mundiais. “Os países aumentaram a produção, porque 2019 e 2020 foram muito favoráveis, e agora está havendo o inverso”, diz .“A Covid travou a demanda, pelo desemprego e pela queda de renda.”
Novos recordes
A ABPA projeta que o resultado de dezembro de 2021, quando for computado, vai elevar o volume anual da produção e das exportações brasileiras de carne suína para 4,850 milhões de toneladas e 1,2 milhão de toneladas, respectivamente, estabelecendo novos recordes.
Patrícia Feiten