Segunda edição do Observatório Suíno, da Alianima, mostra evolução no alojamento das fêmeas durante a fase de gestação para baias coletivas na indústria de carne suína brasileira
Houve um avanço no alojamento das fêmeas de suínos durante a fase de gestação para baias coletivas e foi reforçada a importância de a indústria ser diligente e transparente durante todo o processo de transição. Mas, embora mais atentas e preocupadas em minimizar o sofrimento dos suínos, ainda há um caminho a percorrer até 2029. Em síntese, essa é a principal conclusão da segunda edição do Observatório Suíno 2021, relatório lançado nesta quinta-feira (25) pela Alianima, organização sem fins lucrativos que atua na agenda do bem-estar animal. O relatório, que neste ano contou com a participação de um número maior de empresas do que na primeira edição (2020), visa acompanhar a evolução da transição delas com compromissos públicos de banir as celas de gestação na indústria da carne suína brasileira.
“A principal questão tratada neste relatório é sobre a evolução do alojamento das porcas durante a fase de gestação, de celas individuais para baias em grupo. As celas possuem dimensões extremamente limitantes, não permitindo quase nenhuma movimentação. Além do desconforto físico, os animais não conseguem interagir de maneira satisfatória entre si, explorar o ambiente e nem construir ninho antes do parto, comportamentos naturais importantes já comprovados pela ciência. Como se não bastasse, problemas de saúde, como lesão nas patas, infecções urinárias, atrofia muscular e distúrbios comportamentais, são frequentes por conta da falta de atividade física”, afirma a médica veterinária Patrycia Sato, presidente e diretora técnica da Alianima.
A segunda edição do relatório visou monitorar as 14 empresas que hoje no Brasil têm o compromisso público de banir as celas de gestação na indústria da carne suína: Alegra Foods, Aurora, BFFC, BRF (Sadia e Perdigão), Burger King, Frimesa, JBS, McDonald’s, Pamplona, GPA (Pão de Açúcar e Extra), Ciao Pizzeria Napoletana, Marfrig, TrendFoods (Gendai e China In Box) e Subway. Dessas, seis são indústrias e as outras oito são redes de restaurantes e compradores de carne suína.
Dentre as 14 empresas contatadas, 10 responderam (71,4%), sendo 6 do grupo de fornecedores (100%) e 4 do grupo de clientes (50%). “Esse relatório é importante sobretudo numa época em que cada vez mais é exigido um tratamento digno e com um mínimo de estresse aos animais, desde a reprodução até o momento do abate”, diz Patrycia. Das empresas observadas, quatro optaram por não responder ao questionário enviado: Burger King, Ciao, TrendFoods e Subway. “Esperamos mais transparência por parte dessas empresas, e que elas possam revisar seus posicionamentos. A divulgação de informações é cada vez mais cobrada por consumidores e investidores”, observou a presidente da Alianima.
Nesta segunda edição, o acompanhamento abordou outras questões relacionadas ao bem-estar animal com um pouco mais de profundidade, como o manejo de leitões e o uso não terapêutico de antimicrobianos. “Buscamos atualizar o cenário deste último ano com uma análise comparativa dos dados anteriores, permitindo uma visão precisa da evolução da suinocultura brasileira quanto ao tema de sustentabilidade e bem-estar animal”, afirma a presidente da Alianima, acrescentando que o Brasil é o 4º maior produtor e exportador de carne suína do mundo. “O que torna essa agenda ainda mais relevante e urgente”, completa.
Entre as participantes, quanto à evolução no último ano, observa-se um crescimento de pelo menos três pontos percentuais pela JBS, com 61% das matrizes suínas já alojadas em baias em grupo durante a fase de gestação; e salto de 11 pontos percentuais pela BRF, com 46%. Um destaque é merecido para esta última pelo fato de ser a maior produtora de suínos, com aproximadamente 400 mil matrizes alojadas. Outro ponto a ser ressaltado é que metade das empresas já atingiu mais de 50% da transição – Aurora (60%), JBS (61%) e Pamplona (81%).
Além disso, todas as empresas produtoras de carne suína responderam que pretendem implementar ou já implementaram a castração cirúrgica com anestesia ou imunocastração. Essas empresas também responderam que pretendem implementar ou já implementaram o banimento do corte de dentes. Já o corte de cauda é um procedimento que a maioria das empresas não demonstrou intenção de colocar em prática, infelizmente, com exceção da Frimesa, que já definiu prazo para implementação, seguida da JBS que afirmou que pretende banir. A adoção de formas menos dolorosas para identificação dos animais foi ou será implementada por quase todas as produtoras de carne suína participantes do estudo.
Por fim, quase todas as empresas respondentes afirmaram que pretendem reduzir o uso de antibióticos para fins não terapêuticos. Entretanto, cinco dos seis fornecedores querem interromper essa prática apenas como promotores de crescimento, e não como prevenção de doenças. De qualquer modo, o cenário apresentou uma melhoria, uma vez que na edição de 2020, apenas três haviam se posicionado dessa maneira.
É fundamental reconhecer esses avanços, incentivando que as empresas mantenham como meta os prazos estipulados em seus respectivos compromissos públicos (entre 2025 e 2029), apesar da IN 113, que entrou em vigor no início deste ano, exigir prazos mais extensos para a adequação. “O acompanhamento da transição das maiores produtoras de carne suína permite constatar que o prazo da IN é desnecessário e defasado ao outorgar o prolongamento de sofrimento animal”, afirma a presidente da Alianima.
Avaliação
O questionário direcionado para fornecedores contemplou os seguintes itens de avaliação e monitoramento:
? Proporção de matrizes suínas já alojadas em baias coletivas durante a fase de gestação;
? Período de alojamento das matrizes suínas em celas individuais entre o fim da maternidade e o início da gestação;
? Implementação de melhores práticas no manejo de leitões (fim da castração cirúrgica sem anestesia, corte/desgaste de dentes, corte de cauda e de orelha);
? Uso de antimicrobianos para fins não terapêuticos (promotores de crescimento e prevenção);
? Dificuldades encontradas pelas empresas para prosseguirem com o fim das celas de gestação, aprimorarem o manejo de leitões e reduzirem o uso de antibióticos;
Já o questionário direcionado para os clientes abordou os seguintes pontos:
? Porcentagem de carne suína utilizada anualmente cujos fornecedores não alojam matrizes suínas em celas individuais durante a fase de gestação;
? Inclinação das empresas para exigirem de seus fornecedores outras práticas de bem-estar de suínos;
? Dificuldades encontradas pelas empresas para prosseguirem com a transição para carne suína livre de celas de gestação.
Mudanças
Na suinocultura, algumas das principais mudanças a serem adotadas pelas empresas apontadas pela Alianima são:
? Fim das celas gestacionais, uma das práticas mais cruéis. A porca prenha fica em uma cela mínima, que a impede de se mexer. Isso causa sofrimentos, como dores e atrofia muscular.
? Banimento de castração cirúrgica de machos sem anestesia, corte de dentes, caudas e orelhas de leitões, que causam dores e alto risco de infecções nos animais;
? E fim do uso de antibióticos para fins não terapêuticos.
Leia mais sobre esse assunto em https://www.suinoculturaindustrial.com.br/imprensa/relatorio-anual-avalia-bem-estar-de-suinos-na-industria-brasileira/20211130-081227-U007
Fonte: Gessulli Agribusiness.