Por José Florentino — Valor Econômico
Os custos de produção da suinocultura estão, em muitos casos, acima do preço de comercialização no país. Delicada para todo o segmento, a situação é particularmente preocupante para os produtores independentes, que não conseguem compras grandes quantidades de insumos para ração, estratégia que permitiria reduzir o gasto por tonelada. Para esses criadores, que são 23% do total, a alimentação dos animais representa cerca de 80% das despesas.
Hoje, o custo operacional direto da suinocultura (que não leva em conta a depreciação e o custo do capital) está entre R$ 6,80 e R$ 7,10 por quilo produzido, estima a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS). Enquanto isso, o animal vivo está sendo negociado entre R$ 6,13 e R$ 7,20 por quilo, a depender do Estado, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Para Iuri Machado, consultor de mercado da ABCS, por ter pouco controle sobre os preços dos grãos, o produtor independente precisa ter uma estratégia de compra antecipada, como tradings e outros operadores de mercado. “Ao contrário do que ocorria anos atrás, quando os preços caíam bastante durante a colheita, o produtor de grãos está mais capitalizado e hoje tem mais capacidade de estocagem. O preço já não recua com a mesma intensidade”, explica.
Segundo o Cepea, a cotação média da saca de 60 quilos ficou em R$ 93,60 na terça-feira. Apesar de ter recuado 10,3% em relação ao recorde nominal de R$ 103,23, registrado em 18 de maio, o preço atual é 36,22% maior que o de um ano atrás, quando estava em R$ 59,70.
Quando as margens melhoraram no segundo semestre do ano passado, a ABCS sugeriu aos criadores que não aumentassem o número de matrizes – isso conteria a oferta, em preparação para uma esperada ressaca nos preços da proteína suína, segundo o consultor. No entanto, muitos produtores não deram ouvidos ao alerta, diz Machado, e a oferta acabou crescendo 8% em 2020. Ele acredita que a oferta deverá crescer mais 6% até o fim de 2021, caso mantenha o ritmo do primeiro semestre, com produção de 4,748 milhões de toneladas de carne suína.
O consultor da ABCS afirma que a diferença entre os preços do frango e do suíno está em torno de 16%, com a carcaça resfriada do frango cotada a R$ 8,57 por quilo e a de suíno, a R$ 10,21. Geralmente, o spread é de 50%. “Essa é uma distorção do mercado, que não deve durar muito tempo. Esperamos uma reação nos preços com a aproximação das festa de fim de ano”, diz.
Fernando Araújo, diretor de mercado da Associação dos Suinocultores do Vale do Piranga (Assuvap), acredita que o aumento no abate de suínos sinaliza que a demanda está aquecida nos mercados interno e externo, o que oferece espaço para a recuperação dos preços. “Isso reduz as nossas perdas financeiras e dá mais sustentabilidade ao setor”, afirma.