O senecavírus é uma doença autolimitante em suínos, caracterizada pelo desenvolvimento de vesículas na região do focinho e/ou partes distais dos membros anteriores e posteriores, especificamente nas regiões da coroa do casco e área interdigital. Apesar de produzir sintomas visíveis, o senecavírus não pode ser diagnosticado apenas através de exames clínicos, pois os sinais clínicos são semelhantes a outras doenças vesiculares, tais como a febre aftosa. Se identificada alguma suspeita de doença vesicular é necessária a comunicação ao Serviço Veterinário Oficial (SVO), que irá na propriedade e fará a colheita de amostras e a realização de ensaios laboratoriais para diagnóstico da febre aftosa e diagnóstico diferencial para outras doenças confundíveis.

Muito relevante na suinocultura, a presença desta doença compromete a performance nas terminações, aumenta o descarte de matrizes e a mortalidade de leitões, causa prejuízos no fluxo do abate e acarreta em prejuízos financeiros que afetam as granjas como um todo. Foi para debater esse assunto que a Associação dos Suinocultores de Minas Gerais (Asemg), em conjunto com a Associação dos Suinocultores do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (ASTAP) e a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), com o apoio do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV-MG), Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Suinco e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), promoveram um workshop na manhã da última quarta-feira, (29), mediado pela Diretora Técnica da ABCS, Charli Ludtke. Para o debate sobre o assunto, estavam presentes os Médicos Veterinários Gustavo Simão (Agroceres PIC), Professor David Barcellos (UFRGS), e os Fiscais Agropecuários Natanael Lamas Dias (IMA) e Ângela Vieira (MAPA).

Iniciando as apresentações, o Professor David Barcellos, explicou que o primeiro surto da doença no Brasil ocorreu em 2014 em Minas Gerais. Rapidamente durante o período de um ano o vírus se espalhou para diversos outros estados, chegando a São Paulo, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. “Ainda não temos definida a real forma de transmissão, mas os trabalhos científicos apontam que a contaminação pode ocorrer via oro-fecal, devido à alta concentração do vírus detectada nas fezes dos animais; da matriz para os leitões, e também via cortes e abrasões. Além disso, existem hipóteses de transmissão via ração e/ou insumos, assim como caminhões, veículos e fômites. Um estudo realizado nos Estados Unidos, comprovou que o vírus sobrevive por longos períodos após contaminar matérias primas, podendo se espalhar com facilidade entre países.”

Como ainda não existem vacinas comercialmente disponíveis, a melhor alternativa para proteger o rebanho da doença é evitar a entrada do vírus nas granjas, através do fortalecimento de protocolos e medidas de biossegurança. O Médico Veterinário Gustavo Simão, demonstrou a necessidade da biosseguridade, que através de um experimento, realizado com pó fluorescente, que simulou como é rápida a trajetória de contaminação entre a granja e o transporte.

O Professor David reiterou que para evitar a contaminação é essencial fazer a limpeza e desinfecção dos caminhões, desinfecção de insumos/embalagens que chegam nas granjas, rígido controle do pessoal que circula na granja (veterinários, técnicos, funcionários e visitantes) e implementação de protocolos de biossegurança. Ele explica que erradicar o vírus é complexo, pois haveria a necessidade de eutanasiar todo o rebanho (método não aceito), sendo exequível, como medida alternativa, o fechamento da granja. Essa medida tem sido adotada nos Estados Unidos e é reiterada por Gustavo Simão, que trouxe exemplos práticos de como monitorar, controlar e reduzir os casos de surtos em granjas.

Para encerrar o encontro, os Fiscais Agropecuários Natanael Lamas Dias e Ângela Vieira, trouxeram a visão dos órgãos de fiscalização. Natanael reiterou a importância da notificação precoce ao SVO e o reconhecimento das lesões, por parte dos Médicos Veterinários responsáveis, durante o quadro clínico inicial. Pois na maioria dos casos, as notificações ocorrem de forma tardia (quando as vesículas já estão cicatrizadas), envolvendo contaminações secundárias, comprometendo o diagnóstico final. Também reforçou a necessidade de todos os frigoríficos contribuírem para o Fundo de Defesa Sanitária de Minas Gerais (Fundesa/MG). Ângela, ressaltou que a notificação deve ser feita em até 24 horas, para que a ação do SVO ocorra em 12 horas, sendo que o primeiro passo é descartar a suspeita de febre aftosa, realizar os demais procedimentos laboratoriais e a emissão do laudo que tem validade de 30 dias, conforme estabelecido no Ofício Circular Conjunto nº 01/2019/DIPOA/DSA/SDA. Ainda, reiterou a responsabilidade compartilhada entre as instituições públicas e privadas.

Nas palavras da Diretora Técnica da ABCS, Charli Ludtke “Promover debates sobre a situação atual do Senecavírus é essencial, e com esse evento tivemos mais uma oportunidade de compartilhar experiências e levar conhecimento de qualidade para os profissionais das granjas, SVO e indústria sobre o assunto.” O presidente da ABCS, Marcelo Lopes, parabeniza a ASEMG, ASTAP, CRMV-MG, IMA, SUINCO, MAPA e aos palestrantes pela iniciativa e destaca a importância de que temas de qualidade como esse cheguem até o produtor.

(Fonte-ABCS)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *