A transferência de demanda da carne bovina para proteínas mais baratas, que tem ocorrido neste ano — como reflexo, também, do aumento dos preços dos alimentos — deve prosseguir no consumo associado às festas de fim de ano. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estima que as vendas de kits natalinos deverão crescer até 3% neste ano em relação a 2020.

O aumento da inflação e o alto desemprego no país pressionam o poder de compra da população, o que deve reforçar a procura por carnes de frango e suína. Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, diz que o frango deve ser o principal beneficiado pela alta da carne bovina, uma vez que é a proteína com o preço mais acessível. No caso da carne suína, o último bimestre é, historicamente, o período de maior consumo dessa proteína.

“As celebrações serão de aves e suínos, e não de churrasco [de carne bovina] e bacalhau”, afirma o vice-presidente de Mercado Brasil da BRF, Sidney Manzaro. A companhia projeta que o número de reuniões familiares deverá crescer em comparação com o ano passado, já que 70% da população brasileira completou o ciclo vacinal contra a covid-19.

Rafael Palmer, diretor de marketing da Seara, acredita que as comemorações se estenderão ao longo de todo o mês. “Nossa expectativa é superar o crescimento que tivemos no Natal de 2020, de 8% em volume e 23% em faturamento”, diz ele. Já a Cooperativa Aurora projeta vendas 5% maiores do que em 2020, segundo o diretor-presidente de mercados, Leomar Somensi.

Para o presidente da ABPA, Ricardo Santin, a retomada do trabalho presencial também impulsionará o consumo nesse período, já que em bares e restaurantes é mais comum haver “sobras” no aproveitamento dos cortes. O pagamento do 13 salário, a possível aprovação do Auxílio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família, e a restrição de viagens internacionais devido à variante ômicron do coronavírus também são elementos importantes para o aumento do consumo no mercado interno.

De olho nas famílias que não consomem aves inteiras ou mesmo que não podem pagar pelos tradicionais superfrangos natalinos, as empresas expandiram seus portfólios de pratos prontos. “Estamos preparados para essas ocasiões de consumo”, afirma Sidney Manzaro, da BRF. Já Leomar Somensi, da Aurora, diz que a crise econômica fez com que o consumidor valorizasse os produtos de qualidade para não “errar e ter que desembolsar outra vez”.

O mercado brasileiro atingiu um novo patamar de preços e custos, que deve se manter, avalia Santin. Para o presidente da ABPA, o cenário para o primeiro semestre de 2022 é de cotações dos grãos estáveis ou até um pouco abaixo — mas não muito — durante a colheita de uma safra que provavelmente será farta. Iglesias concorda que a perspectiva é de oferta suficiente, mas reforça que o “mercado climático” ainda exige atenção.

Fonte: Valor Econômico.

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